Produtores querem fazer da cachaça a champanhe brasileira

Produtores nacionais de cachaça querem ampliar a participação da bebida no exterior e, para isso, trabalham para que o produto obtenha reconhecimento internacional como sendo tipicamente brasileiro. A idéia é tornar a cachaça a “champanhe brasileira”.

“Como a champanhe é uma bebida francesa e a tequila uma bebida mexicana, também queremos reforçar a cachaça como patrimônio brasileiro”, diz Carlos Lima, diretor-executivo do “Ibrac”:http://www.ibrac.org.br/ (Instituto Brasileiro da Cachaça). “Como o principal drinque feito com a cachaça é a caipirinha, ela também seria reconhecida como bebida típica brasileira, o que promoverá uma ampliação do mercado e valorização dos produtos”, acrescenta.

Os Estados Unidos são o mercado no qual as negociações para o reconhecimento das bebidas nacionais estão mais avançadas. O Brasil passou a ter, em agosto deste ano, um escritório de advocacia atuando diretamente com os responsáveis locais, para tentar agilizar o processo.

As negociações tiveram início ainda em 2000, mas, segundo Lima, a burocracia é grande porque é preciso uma alteração na legislação norte-americana. “Hoje, a cachaça entra no mercado dos Estados Unidos como ‘Brazilian Run’. Para passar a entrar com o nome cachaça é preciso mudar as leis. Mas acredito que até junho do ano que vem isso já tenha mudado”, diz o diretor do Ibrac.

Europa
Outro mercado que interessa aos produtores é a Europa. No bloco europeu, o trabalho é pelo reconhecimento da indicação geográfica da bebida, que garante exclusividade de sua fabricação no Brasil.

“Queremos que a origem brasileira da cachaça seja reconhecida, para que outros países não se apropriem indevidamente do nome. Cachaça é mais do que uma marca, é um bem, um patrimônio nacional”, ressalta Lima.

Segundo o diretor do instituto, a previsão é que até a metade do ano que vem o Brasil deve entrar com um processo, que é unificado por conta do bloco europeu.

A escolha dos mercados principais é simples, uma vez que os Estados Unidos são o segundo principal destino da cachaça exportada do Brasil, atrás apenas da Alemanha. Mas, para atender ao aumento de demanda previsto com a nova regulamentação no exterior, será necessário capacitar e estimular os empresários brasileiros. Atualmente, poucos se arriscam em outros mercados.

“Temos que promover a inserção dos micro e pequenos produtores no mercado internacional porque, hoje, 99% deles estão no mercado interno”, analisa Lima.

Receita da caipirinha
No Brasil, o Ministério da Agricultura já publicou vários decretos que estabelecem a cachaça e a caipirinha como produtos tipicamente brasileiros. Há também uma documentação que regulariza o mercado interno, padronizando as bebidas.

No final do mês passado, o ministério publicou uma regulamentação técnica que estabelecia a receita oficial da caipirinha. Mas a publicação foi revogada poucos dias depois. A explicação oficial foi a de que houve um “engano” na publicação.

O Ibrac endossa a tese, dizendo que o que foi publicado como uma regulamentação, na verdade, deveria ser uma consulta pública, que ainda deve ocorrer, para se chegar à receita ideal. O diretor da entidade explica que já foi feita uma consulta pública em maior deste ano e, por conta do grande volume de sugestões, decidiu-se voltar a discutir a receita ideal.

Carlos Lima afirma, contudo, que as normas valeriam, no caso da caipirinha, para o produto industrializado, pronto para consumo, não para a bebida que é preparada nos bares. “A regulamentação serve para melhorar o processo de fiscalização do ministério, porque estabelece um padrão para a caipirinha industrial e padroniza o mercado”, diz.

Já os decretos que caracterizam cachaça e caipirinha como produtos típicos brasileiros fazem parte do endosso do governo federal à campanha internacional pelo reconhecimento dos produtos. “Essa legislação reforça e dá a base legal para o trabalho que estamos fazendo no exterior.”

Fonte: Claudia Andrade, do UOL Notícias

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